Nosso espaço no diabetes

Esses dias recebi um convite, fiquei animadíssima com ele. Falo muito com vocês, pessoas como eu, que tem diabetes, e já falei algumas vezes para os profissionais que cuidam de nós, que estudam o diabetes. E é sempre muito rico poder falar com os profissionais que estudam a nossa condição e tratam da gente nos consultórios e outros espaços de cuidado. Fui já para Alemanha falar com esses profissionais. Fui ouvida e os meus apontamentos e análises considerados. Eram representantes de governos ao redor do mundo interessados no que eu tinha para falar. Não que isso tenha mais valor do que a escuta de cada um de vocês. Mas me senti como se todos nós estivéssemos sendo escutados, como se eu fosse apenas o veículo para a fala chegar a esse espaço onde as coisas podem mudar, onde políticas públicas coerentes podem ser implementadas, onde podemos dar um freio do aumento do número de casos de diabetes e para que os já existentes tenha atendimento digno, de forma que se evite complicações.

O fato é que o convite foi por água abaixo por algumas discordâncias. E eu não terei este espaço de fala. Espero que ele seja ocupado por alguém que igualmente possa levar a fala de todos nós para esse espaço. E que possamos fazer deste espaço, seja com quem for, um espaço de escuta aberta e ativa por parte daqueles que nos estudam e dos que nos tratam.

Encaro o falar de diabetes não apenas como o falar sobre mim. É falar sobre algo muito maior e mais intenso, amplo, universal. Cada um vive o diabetes a sua maneira, e também valorizo o espaço de falar da minha experiência, mas muito chega até mim, de cada um de vocês, e encontrar espaços de escuta é muito importante. E ampliar a escuta é essencial.

São quase 20 anos acompanhando esse movimento de pessoas com diabetes, esse movimento do expressar, do encontrar espaços de pertencimento. Mudamos o veículo, a forma, dos grupos presenciais e locais, a encontros gigantescos por meio da internet, dos blogs ao Tik Tok. Há muitas formas de se expressar. Mas a busca é sempre a mesma. Saber-se parte de algo maior.